Análise meramente desportiva ao Relatório & Contas (após leitura do magnífico
trabalho do
blogger Benfica Eagle), logo excluindo outras vertentes importantes, sendo que o
core business é o futebol:
- Gastámos cerca de 11M€ em Derley, Taarabt e Carcela. Péssimo, péssimo. Aquisições perto do ruinoso, sobretudo o primeiro e o segundo, e que apenas "tapam" miúdos do Seixal com mais valor e potencial. E mais dizem-me que se acabaram as aquisições ao quilo e os camiões de jogadores do tempo de Vale e Azevedo. Milhões inexplicavelmente gastos em jogadores que à partida sabíamos que não teriam valor para envergar a camisola do Benfica... Mas sou eu que sou abutre, claro!Como explicar Pizzi por 6M€ por 50%?! O que fez ele para justificar este preço? Este dinheiro não serviria para comprar 100% de um bom nº 8? Funes Mori por perto de 5M€?! Já sabíamos de tudo isto, é certo, mas continua a incredulidade perante estes valores. E mais incrédulo fico ao ver que há gente que acha tudo isso normal. E já vamos em 22M€ gastos de um modo totalmente desfasado do real e irresponsável... E nós com tantas lacunas no plantel. E Djavan, que nem sequer entrou na Luz, custou 1M€... Mais Benito, que custou 3M€ e nunca contou verdadeiramente para equipa técnica!
- Nas vendas, tivemos um abrandamento notório na valorização dos atletas. E apesar de termos registado ganhos interessantes, fruto das boas campanhas ao nível interno, percebemos que a dialéctica da valorização e venda dos jogadores é claramente exagerada. Senão vejamos: em Enzo, apenas ganhámos 18,7M€ dos propalados 25M€. Nos famosos pack's 15M€ pelos jovens entraram na Luz valores abaixo dos 13M€. Mesmo assim, isto sublinha o potencial da formação. Com Oblak "apenas" ganhámos 9.4M€... Para não falar em Garay, que continuo a insistir: foi mau de mais e danoso...
- Entre outras maiores ou menores surpresas, registamos que os valores que são anunciados em praça pública na defesa das negociações do Benfica são um pouco distantes do real. E o mito de Vieira implacável negociador é mesmo isso: um mito criado pela Imprensa. E apesar de se confirmarem que o pack 15M de euros é real, falta apurar o verdadeiro custo dos atletas e falta perceber que implicações nos nossos negócios futuros, pois ninguém com juízo acredita que na altura que saíram estes jogadores valiam esse montante. Mas sim, o valor está lá e mostra bem a qualidade dos atletas. E aponta-nos outro dado: a percentagem que o Benfica recebe quando transacciona o "seu produto" é maior. Só é pena que essa primeira geração tenha sido "queimada". Mais um custo colateral da gestão JJ. Falta perceber se a geração actual do Seixal é tão boa quanto a anterior.
- Nas deduções, percebemos uma realidade: o futebol depende cada vez dos intermediários e do nosso posicionamento para com eles depende a aquisição de bons valores. Case in point: Lazar Markovic. O sérvio era um promissor futebolista, mas sem "terceiros", nunca conseguiríamos a sua compra. Não é má estratégia, mas deve ser feita com extremo cuidado. Senão teremos a repetição do péssimo negócio de Ola John. Por isso, a valorização e posterior venda tem de ser um assunto tratado com cuidado extra. Milagres negociais? Yeah, right!
- Gastar 26M€ em 7 jogadores como Derley, Taarabt, Carcela, Pizzi, Mori, Djavan e Benito roça a gestão danosa. Até porque não falamos em jovens promessas, mas sim em jogadores já com alguma idade e sem grandes perspectivas de valorização. Certo que 3 já foram vendidos. Mas isso comprova um descontrolo total na política de aquisições do Sport Lisboa e Benfica, sem certezas do que se está a fazer. Isto sem falar em jovens atletas como César e Victor Andrade, que nos custaram 6M€ e ainda estamos para ver a sua utilidade real. E que concorrem com miúdos nossos, atrasando a sua evolução ou possível aposta. Exemplo: Fábio Cardoso tem feito excelentes épocas em Paços de Ferreira. Havia necessidade de gastar 2M€ no César? Creio que não.
- O dispêndio de 90M€ em jogadores nos dois últimos anos é uma exorbitância! Com apenas 4 atletas a serem titulares. É certo que somos bi-campeões. Mas é incontornável: desses 90M€ só mesmo Júlio César, Samaris e Jonas justificam amplamente o dinheiro investido e se isto não é péssima política desportiva, não sei o que será... E o Benfica, no meio em que está inserido, não pode gastar inúmeros milhões em incógnitas e/ou promessas. Tem de reduzir o nº anual de aquisições e sempre "pela certa".
- Perante estes péssimos números, a opção de apostar na juventude é acertadíssima. É inevitável e uma urgência... E é a única maneira de obter ganhos mais profícuos. Cortam-se algumas deduções aquando das vendas e esperamos que encurtem os números nas péssimas aquisições. Vejamos: "Perdemos" em deduções cerca de 25% do valor de venda de Enzo. Com Cancelo, "perdemos" só 17%. Certo, o valor recebido pelo argentino foi maior. Mas do recebido, pode-se deduzir o custo da compra, enquanto o português foi de "borla" e sem ser titular. Logo, tem de se apostar na formação!
- Porém, nesta época verificamos que o disparate continua: 9M€ Jiménez + 3M€ Taarabt + 3.4 Carcela= <15M€ em jogadores perfeitamente dispensáveis e que não mostraram previamente a qualidade necessária para envergar a nossa camisola, evidenciando que o rigor simplesmente não existe. Urge por isso continuar a inversão de política desportiva, continuando a apostar nos miúdos e ser muitíssimo selectivo nas aquisições. Exemplo: o dinheiro gasto nos 3 jogadores mencionados serviriam para comprar um lateral esquerdo de valor indiscutível (algo que em 10 anos o Benfica só por uma vez fez com Léo), bem como um 6 ou um 8 de qualidade insuspeita. Ao invés disto, optou-se por negócios altamente discutíveis. Sobretudo, Taarabt e Jiménez. Onde anda a prospecção? Ou a responsabilidade é da famosa estrutura ou de ninguém?
- Fugindo um pouco ao tema, decisivo nestas contas seria dar mais poder a Rui Vitória ao nível das aquisições. Sou apologista disso, pois duvido que este plantel tenha "dedo" do técnico. É urgente que Vieira largue a "pasta futebol" e a entregue a outrem (Rui Costa novamente?). Se por um lado, considero, por exemplo, a aposta em Renato Sanches muito positiva, o peso da formação só pode ser consubstanciado se, e só se, existirem titulares de enormíssima qualidade. Isso não acontece hoje. E foi nisso que o Sporting falhou durante vários anos. A sportinguização só se dá se não tivermos um 11 fortíssimo e os miúdos segundas linhas prontas a avançar. Não podemos ver um puto como Nélson Semedo lesionar-se e ficarmos sem opções de qualidade para o 11, tendo de "inventar" Clésio. Isso sim, é sportinguizar! Por exemplo, Gonçalo Guedes terá em Salvio um bom exemplo de crescimento. Logo, porquê Carcela, não é? Sanches deveria olhar para Samaris como "o seu mentor", na perspectiva em que o jovem benfiquista e o grego concorrem ao mesmo lugar. Um titular de insuspeita qualidade e um miúdo de enorme potencial! Não podemos por na miudagem o peso de resolver tudo... E contratar, só quando não exista melhor no Seixal ou quando o titular seja o miúdo e não exista mais ninguém.
- Ao nível financeiro puro e duro: a redução do passivo em 20M€, que ainda assim apresenta um valor altíssimo, mas ao contrário do exercício anterior, o Activo já é superior em cerca de um milhão de euros. Ora neste momento perante a marcha dos números para território positivo, vivemos uma era de charneira: como conciliar o sucesso desportivo com a consolidação das contas? E se tal é possível neste momento? Esse é o desafio de Vieira. O modo como terminar esta época terá um fortíssimo peso no próximo R&C e veremos então a capacidade da "Estrutura", em conseguir aliar o sucesso às finanças. Ou se o eventual insucesso vai levar a um agravar das contas. É que é notório que o actual passivo foi, em grande parte, à custa das fortes apostas desportivas. Lá está, o segredo será sempre o rigor absoluto: na aposta na formação e nas aquisições. Algo que pouco tem acontecido.
- Por fim, cumpre dizer que se Vieira conseguir continuar o sucesso desportivo das duas últimas temporadas, aliado à consolidação da actual marcha das contas, tendo alterado conscientemente o paradigma desportivo, aí sim, será um dos grandes Presidentes da nossa História. Até agora, não creio que esteja nesse patamar. É certo que levantou o clube. Mas não era essa a sua obrigação como presidente? De gerir bem o clube? E note-se: isso é já passado! E os seus mandatos coincidiram com grande fulgor europeu do FCP, com um passivo a galope. Por isso, esperemos pelo exercício e Maio de 2016 para aferirmos da posição de Vieira na nossa História.
- Para reflexão: se o rigor tem sido pouco e mesmo assim os números são interessantes, imaginem como seria se existisse efectivo controlo nos gastos da política desportiva?
Off topic: Uma questão: mais quantos penalties serão precisos para que Lopetegui comece a atacar as arbitragens nos jogos do Sporting e para que repita a histeria anti-Benfica do ano passado?